Quando escrevo sobre repressom sempre ponho sobre o tapete um fator que é comum denominador nos casos mais recentemente conhecidos de açom repressiva com finalidades políticas na Galiza. Aos fatores de arbitrariedade, desproporçom e seletividade temos que lhe acrescentar o evidente ódio de classe.
Se por algum motivo se odeia no estado espanhol ao nacionalismo galego é pola sua identificaçom com as classes populares e, nomeadamente, com a classe operária. As luitas populares mais heroicas e mais duramente reprimidas no nosso país levárom por bandeira a bandeira da pátria e nom passa desapercebida essa estrela vermelha do socialismo.
Desde a luita das Encrobas ou contra a central nuclear de Jove, até as últimas greves do metal em Vigo, passando polas mobilizaçons em defesa do setor lácteo, ou em defesa do naval, ou as mobilizaçons contra a catástrofe do Prestige, ou contra a LOU, nengumha delas teria passado polos duros episódios repressivos que passou se nom estivesse no méio de alguma maneira o conflito nacional. Nom se teria manifestado essa repressom com igual crueldade, se nom aparecesse nessas mobilizaçons desafiando o vento essa bandeira com coraçom vermelho.
No caso da repressom ao independentismo galego, sob o argumento com frequência da “luita contra o terrorismo”, sabem que esse independentismo é o único que propom a ruptura radical com a ordem de cousas que o capitalismo nos impom. O capitalismo europeu confina-nos numa marginalidade nom provocada pola nossa falta de capazidade para produzir e competir em termos de livre mercado, mas porque à oligarquia espanhola e ao capital lhes interessa um outro papel para a Galiza, que é um papel passivo, residual e dependente.
Quem tem a força para rebelar-se, e também os motivos, contra esta agonia desesperante à que nos condenam como povo, é a juventude trabalhadora, sem perspectivas de umha vida digna. Sabem que essa juventude desempregada, avocada a emigrar, silenciada, manipulada, condenada à alienaçom, pode rebentar se vê referentes combativos nos que achar-se reflectida. Por isso se orquestram autos de fé como os que ultimamente contemplamos, com detençons e registos espetaculares, juízos com um seguimento mediático tingido de sensacionalismo alarmista…os “cachorros” fanatizados, incubados e socializados no ódio, adoutrinados, som exibidos publicamente como troféus, como alimanhas caçadas.
Os que conhecemos a Carlos Calvo e outra gente da sua contorna sabemos que nom som cachorros de nada, que se som filhos e filhas de alguma cousa é do povo trabalhador galego, que nom receberom nengumha educaçom no ódio, nem sequer umha educaçom diferente à que recebeu outra gente da sua geraçom, nom sendo a que lhe puideram dar as famílias caso de que venham de umha família com tradiçom nacionalista, que nom sempre. O único que diferencia a estes jovens galegos em prisom da gente da sua geraçom é que em lugar de apostar polo cavalo ganhador e entregar-se à alienaçom das drogas, do consumismo desenfreado, do chovinismo espanhol e à adoraçom acrítica a ídolos da cultura de massas ou o desporto de elite, decidirom que queriam ser mulheres e homens livres de toda opressom. E que a luita para combater essa opressom estava no movimento cultural, linguístico, ambientalista, feminista, operário, mesmo desportivo. E que essa luita às vezes tinha lugar fora das margens da legalidade espanhola imposta.
Se o seu desafio às leis nom tivesse componhente de classe, se o seu desafio nom tivesse intuitos libertadores e se amparasse no darwinismo mais reacionário, se nom ameaçasse as estruturas de poder e tivesse no alvo aos e às mais débiles, nom haveria nem a acossa policial nem o assanhamento judicial que costumam sofrer.
Como som possíveis condenas de anos por “enaltecimento do terrorismo” por um lado e nulas consequências frente a declaraçons de adessom ao ideário franquista por parte de cargos públicos polo outro?
Como é possível que um pretenso artefato explosivo em qualquer local ou instalaçom vazia seja mais “terrorismo” do que agredir, e nalgum caso mesmo assassinar a pessoas pola sua raza, a sua orientaçom sexual, a sua nacionalidade, ou mesmo a sua apariência física?
Se o terror se exerce desde o patronato, desde o aparelho do estado ou desde a igreja, porquê tudo acaba diluindo-se num silêncio abafante?
A única conclussom, é que sair do rabanho tem um preço realmente elevado. Desde o aparelho de propaganda que é a mídia fomenta-se o auto-ódio coletivo que empele a desafetar-se desses membros da sociedade que se desmarcam das regras do jogo. A trabalhadora grevista que rompe umha máquina da fábrica, o operário que se enfrenta fisicamente ao patrom, o jovem que fai pintadas políticas no seu bairro, a estudante que expulsa ao contino esbirro da assembleia, o piquete que decide fazer umha barricada incendiária nos accessos ao polígono industrial ou o pessoal manifestante que reage a umha carga policial repelindo-a com paus e pedras, som umha nódoa na normalidade democrática que cumpre isolar. Nom som representativ@s da sua classe, que teoricamente nunca sofriria repressom se levasse as suas reivindicaçons pola via legalmente estabelecida, nem som representativ@s do seu povo, que é um povo pacífico, acolhedor, civilizado (é dizer, servil)
Evidentemente a solidariedade deve conscienciar ao povo de que qualquer de nós pode ser umha dessas pessoas que a dia de hoje permanecem em prisom, às vezes com acusaçons fruto da criatividade jurídica repressiva da Espanha e noutros casos, sem sequer juízo nem motivo suficientemente explicitado. Nom podemos deixar que os nossos inimigos se encarreguem de expedir salvo-condutos de bondade e legitimidade entre nós. E devemos defender sem nengumha ambagem que devem estar fora da prisom, que devem voltar à sua Terra, que devem ser devoltos aos seus amigos , às suas famílias. Que nom nos mutilem nem do seu exemplo, nem da sua força.
Ramiro Vidal Alvarinho, escritor e ativista cultural